Parte de minha família veio de fora do Brasil, e a outra metade, ao que me parece, sempre esteve ali no Amazonas. Cresci indo passear nos igapós, vi cupuaçu no pé, e aprendi a identificar sua fragrância. E até hoje, quando retorno a Manaus, sei que o suco de cupuaçu está por perto pelo cheirinho que exala. Comi muita tapioca antes de ser considerada “fit”, e tomei muito açaí “recém-chegado” do interior. Peguei em peixe-boi, nadei com os botos, quer dizer, coloquei os pés n’agua, porque não tive muita coragem de entrar no rio. Aprendi a remar canoa e a apreciar o canto dos pássaros. Vi tucano, araras, esquilinhos, aranhas gigantes, gavião e bicho preguiça nos corredores da faculdade. Estereótipos a parte, tudo isso foi incrivelmente lindo e, ao mesmo tempo, considerado normal para quem mora em Manaus.
Também cresci ouvindo as famosas histórias de pescador. Imagino que são histórias reais com um fundinho de exagero. Quem me contava esses “causos” era meu avô. Seu Raí, como era carinhosamente chamado, filho de nordestinos, criado nos rios do Amazonas. Aprendeu a arte de pescar muito cedo, e com oito anos já caçava pela floresta; afinal, alguém precisava ajudar os pais com os irmãos menores. Lembro que íamos tomar café com o “vovô”, e conversávamos bastante sobre a vida. Ele contando as histórias dele, e eu tentando assimilar tudinho.
Seu Raí não era perfeito, teve suas lutas durante a vida. Com recursos limitados, cursou somente até a quinta-série. No entanto, sabia o valor da educação, e insistiu para que minha mãe e meus tios concluíssem o ensino médio, faculdade e seguissem carreiras profissionais. Foi na escola técnica que minha mãe, Tia Hedy, começou a frequentar o “clubinho”, conheceu a Jesus, decidiu segui-Lo e, ainda por cima, levou seus irmãos para escola dominical – o que resultou na conversão de dois dos meus três tios. Já na faculdade, minha mãe se envolveu com a Aliança Bíblica Universitária (ABU), onde conheceu meu pai, casaram-se, e nos criaram envolvidos na Igreja Presbiteriana de Manaus.
O legado não intencional do meu avô – a busca por uma vida melhor através da educação- introduziu minha mãe a Cristo. Num efeito dominó, meus tios conheceram a Jesus, Tia Hedy casou-se com o Tio Gilberto, e formaram a nossa familia. Nos criaram na igreja, e nos colocaram numa escola cristã de ensino fundamental, onde conheci vários filhos de missionários, que indiretamente me levaram, 15 anos mais tarde, a conhecer meu esposo.
Nada disso teria acontecido não fosse a persistência do meu avô na educação de seus filhos. Muitas vezes nosso legado é como aquele fio solto no nosso suéter de tricô. Se puxarmos, irá desfiar e levar a caminhos e costuras que jamais imaginaríamos. A tendência de pensar que o que deixamos aqui nesta terra tem de ser grandioso pode ser uma armadilha, que por vezes nos deixa ansiosos e frustrados por não correspondermos à ideia antagônica de “sucesso cristão”. Não estou defendendo ou criticando os diferentes ministérios e seus tamanhos, mas encorajo-as a pensar sobre equilíbrio, e a se animarem ao saber que tudo coopera para nosso bem, até a insistência de nossos pais em situações corriqueiras, como terminar um curso na faculdade (Obrigada, mãe!). Como o nosso querido pastor Júnior um dia perguntou na igreja: Qual o tamanho da obra de Deus pra você? A igreja gritou: Graaaande. Ao passo que ele sorriu e respondeu: do tamanho que Deus quiser.
E o efeito ripple dessa história familiar é que meu avô, no fim de sua vida, quando o câncer não dava trégua, decidiu-se por Cristo. Foi batizado ali em sua casa, já que as pernas não tinham mais forças de tirá-lo do conforto de seu lar. E quando a hora de encontrar com Jesus chegou, todos os filhos e netos estavam lá. Sim, ele fez parte do legado que tinha começado sem querer, que levou seus filhos a testemunharem sobre o amor de Deus. Convido-as a viver a simplicidade do evangelho, dizer sim aos desafios lançados por Deus, deixando que Ele mesmo nos guie e construa o nosso legado. Seja grande ou pequeno, intencional ou não.
Fotografia: Guilherme Marques
Que palavra linda Heyde ! Uma benção poder ler esse texto logo pela manhã tomando um café com leite no friozinho que amanheceu em Minas Gerais ! Beijoss
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Oxi, Lu! Que bom saber que você gostou desse texto! Deus te abençoe muito, com muito café quentinho e pão de queijo =)
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Que coisa mais linda este texto!
Estou em lágrimas!
Obrigada, filha.
Espero, como papai, deixar um legado, mesmo sem querer.
Deus é bom! Amo!
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Que coisa mais linda este texto!
Estou em lágrimas!
Obrigada, filha.
Espero, como papai, deixar um legado, mesmo sem querer.
Deus é bom! Amo!
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Lindo Heyde!! Suas sábias palavras mostram a simplicidade e ao mesmo tempo a grandeza de Deus!! Amo a sua família!!
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E amamos você também, Marcinha <3!
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Texto muito lindo!
Sua história mostra como Deus é maravilhosamente perfeito e que cuidou e cuida de cada detalhe.
Deus continue te abençoando Heyde!
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muito legal, Heyde! Nós muitas vezes só queremos ver o grande, mas nas pequenas coisas, Deus também habita! Lindo ver como Deus usa as coisas e pessoas!
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Uauuuu….Heyde querida…estou maravilhada com seu relato, iluminadas pelas fotos do Guilherme…lendo o q vc escreveu me trouxe um agradável orgulho de ser parintinense…e de fazer parte da sua história e da sua família
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Você faz muuuuito parte da minha história! Sou grata a Deus por você
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Muito lindo ! Tô chorando aqui ! 😍 O que deixamos pra nossos filhos e netos (agora que sou vovó 👵🏻) é o amor de Cristo é aquilo que aprendemos com nossa família ! Parabéns Heyde !
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Vovó mais linda! Verdade, Cinthya. Deus é bom!
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Que texto lindo cunhada!! É incrível ver Deus até nas coisas mais normais.. 😍🙏🏻❤️
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Poxa, Heyde! Teria sido muito legal conhecer o Sr. Raí! Ah… e que maravilha ter crescido num entorno tão incrível e com cupuaçu à vontade. Amo de paixão!
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Cupuaçu, como diriam os jovens, é vida! =) quem sabe nos encontraremos pra tomar um suquinho?
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Oi Heyde, você tem uma escrita suave e forte, como os nossos rios. Deus lhe abençoe 😘. Tia Elaine
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Que super elogio esse! Brigada, tia!
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Que lindo, Heyde. Me identifiquei com algumas memórias preciosas suas, tão singelamente relatadas neste texto. O tracejar de nossas vidas pela mão do nosso Deus, é maravilhoso. Um legado de valor tem sua grandeza. Parabéns pelo texto.
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Estou muito contente com as “karissimas” realmente tem me abençoado bastante! Enquanto leio os tantos relatos e testemunhos sou iluminada para olhar para mim,como pecadora, e desejar as mudanças que só Cristo faz. Louvo a Deus por vcs queridas! Desejo mtas coisas boas da parte de Deus pra vcs.
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